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O filme foi idealizado e produzido pelo filósofo e cineasta Gabriel Filipe
“Não é que eu seja racista, mas existe uma história que só os negros sabem contar”. É a partir desse trecho do poema “Ponto Histórico”, de Luiz Carlos Amaral Gomes, declamado pela atriz Suely Bispo, que o documentário “A coisa tá preta” introduz um debate sobre o racismo e seus impactos cotidianos, tomando como base a vivência de seis moradores de Linhares, além de outros capixabas que estudam e militam na causa.
O filme recém-lançado apresenta as raízes do racismo no Brasil, assim como a construção da cidadania do negro na sociedade, partindo de relatos – atuais e históricos – de dor, autoaceitação e resistência. “Essa nação nos deve muito pela forma com que fomos trazidos para cá e pelas oportunidades que nos foram tiradas durante séculos, justamente por trazermos [...] na pele o peso desta cor”, afirma a professora de História Maria Valdinéia de Oliveira Adão, em depoimento ao filme.
Idealizado e produzido pelo filósofo e cineasta Gabriel Filipe, natural de João Neiva e residente em Linhares, o documentário mostra como o racismo – velado e explícito – se manifesta nas mais diversas relações sociais e transforma situações cotidianas em desafios a serem superados por pessoas negras. “Creio que o cinema é a melhor criação pedagógica já inventada pelo homem, tamanha a capacidade de despertar múltiplas emoções”, afirma Gabriel.
Para o cineasta, o objetivo do filme é provocar. “Enxergo o espectador como um sujeito que produz a realidade e tem a capacidade de modificá-la. Espero que o documentário continue para além da sessão, seja por meio de diálogos, conversas e, por que não, mudanças”.
A professora e militante Ana Paula Ricardo relata que. se você tem um juiz negro, ele tem que ser impecável. “Ele não pode falhar [...]. O mito do negro único faz com que nós repensemos até onde a gente pode e quer chegar. Ele faz com que duvidemos até da nossa capacidade de alcançar alguns locais. ‘Será que vou dar conta disso?’ Pois se estiver nessa posição, a cobrança vai ser muito maior por conta do meu tom de pele”.
Os depoimentos também abordam questões de representatividade e busca por um espaço na sociedade. O jornalista Tiago Cau Marques questiona: “Como que o negro vai conseguir exercer sua cidadania, alcançar uma plenitude cidadã, se eu não consigo entender nem o meu lugar dentro dessa sociedade?”
Ele prossegue:”[...] Se eu não consigo ver nem uma representação mínima dentro das instituições? Se o meu lugar está sempre numa periferia, numa margem da sociedade, fica difícil exercer a cidadania, pois o centro está distante da gente. E eu não vou conseguir nem transformar esse centro e muito menos participar”.
Além do poema “Ponto Histórico”, que abre o documentário, a atriz Suely Bispo empresta seu talento à produção para declamar outros trechos de textos escritos por autores negros. Nascida em Salvador, a artista vive há muitos anos no Espírito Santo e é um dos principais nomes da militância pela valorização da cultura negra capixaba. Na dramaturgia, um de seus papeis mais conhecidos é o da cozinheira “Doninha”, personagem da novela Velho Chico (Rede Globo/2016).
Disponível no Youtube e com acesso gratuito, “A coisa tá preta” foi produzido com recursos da Lei Aldir Blanc, criada de maneira emergencial para fomentar a cultura nos municípios em meio à pandemia. Todos os protocolos de segurança contra a Covid-19 foram seguidos durante as gravações.
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A atriz Suely Bispo protagoniza o documentário “A coisa tá preta”
FICHA TÉCNICA
Documentário: A coisa tá preta
Ano: 2021
Duração: 32:44 min
Direção e produção: Gabriel Filipe
Imagens: Álvaro Queiroz
Elenco: Ana Paula Ricardo, Évilyn Rosa Lirio, Joana Freitas, Marcos Vinicius Sá, Maria Valdinéia de Oliveira Adão, Poliane Passos, Ricardo Paixão, Tiago Cau Marques e Suely Bispo.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=_fNXmlqZOr8